Pesquisa revela que ações não-verbais podem ser tão importantes quanto uma conversa para melhorar esta aprendizagem
Quando é que o meu filho
vai começar a falar? Qualquer pai e mãe faz essa pergunta e espera ansiosamente
pela primeira palavra do bebé. Em média, as crianças começam a balbuciar com 1
ano. Os primeiros sons são mais sílabas do que palavras, como “mã” e “pa”. Mas
não importa como acontece, este momento trará, de qualquer maneira, uma emoção
enorme.
Para que a criança continue
a desenvolver as suas habilidades com a linguagem, é preciso estimulá-la. A
maneira mais natural de fazer isso é conversar com os bebés. No entanto, uma
pesquisa realizada na Universidade de Chicago (EUA) provou que as ações
não-verbais podem ser tão importantes quanto a conversa para melhorar esta
aprendizagem. Por exemplo, o ato de apontar para um livro enquanto se diz “a
mãe vai buscar um livro” facilita a memorização dessa palavra.
O estudo avaliou 50 bebés entre os 14 e 18 meses e recolheu vídeos enquanto
eles interagiam com os pais. Uma das descobertas foi que o uso da fala
associada a um contexto específico (dizer “livro” enquanto se está perto de uma
estante) varia muito de um pai para o outro. Os filhos daqueles que falavam
mais palavras relacionadas ao contexto ou aos objetos em questão apresentaram
um vocabulário mais amplo três anos mais tarde. Segundo os pesquisadores, com
pequenos ajustes nas conversas os pais podem dar um estímulo mais eficiente à
fala das crianças.
De acordo com a
fonoaudióloga Ana Maria Hernandez, coordenadora da equipa de fonoaudiologia do
Hospital Santa Catarina (SP), falar dentro de um contexto e fazer gestos (como
apontar para o objeto) pode favorecer a aprendizagem, pois é uma maneira do
adulto apresentar o mundo à criança. No entanto, a fala também depende de
vários outros fatores para se desenvolver. “Ela é uma expressão da linguagem e,
como tal, resulta da integração entre diversos sistemas. A criança precisa
estar com o sistema neurológico preservado, a parte motora e psicológica
também”. Ou seja, até o carinho que se dá ao nosso filho pode fazer diferença
no desenvolvimento da fala.
A seguir, apresentam-se algumas
dicas que se podem adaptar sem muito trabalho ao seu quotidiano:
Descreva o mundo
O conceito pode parecer estranho, mas na prática é muito simples. Converse com
o seu bebé sobre aquilo que o rodeia. Na hora de trocar a fralda, por exemplo,
vá nomeando as suas acções: “vou limpar o teu rabinho, vamos colocar uma fralda
limpinha e vais ficar cheiroso”. Durante um passeio no parque, apresente as
árvores, a relva, os passarinhos. Apontar também é um ótimo recurso porque dá
forma às palavras. A criança associa o som ao objeto e fica muito mais fácil
decorar o nome dele.
Atenção ao tom de voz
Quando falamos, colocamos sempre uma entonação na nossa voz, que pode
significar dor, alegria, tristeza... Não tenha medo de se expressar na frente
do seu filho, porque isso vai o ajudar a descodificar as emoções.
Dê atenção e espaço ao bebé
Dedicar algum tempo à criança é importante para criar um ambiente emocional
saudável e também para perceber o que ela tem a dizer, mesmo que não o faça com
palavras. Dê espaço para a criança demonstrar os seus sentimentos e as suas
vontades. Não precisa de ficar a falar ininterruptamente na frente do seu filho
achando que assim ele vai começar a falar mais cedo. Dar espaço para o silêncio
também é importante – ele também é uma forma de comunicação.
Cante sem medo de desafinar
Além de conversar, cantar para a criança é essencial. A sonorização, a rima e o
ato de cantar transformam a fala em brincadeira, e isso comprovadamente ajuda o
desenvolvimento da linguagem, do vocabulário e facilita o período de
alfabetização. Outro ponto forte das músicas são os refrões porque a repetição
prende a atenção das crianças. Permita que o seu filho conviva com diferentes
sons e melodias. “Muita gente entra naquela discussão de direitos humanos, que
‘atirei o pau no gato’ passa uma mensagem de violência, mas nos primeiros anos
para a criança o que importa é a sonoridade”, diz a pedagoga Eliana Santos,
diretora pedagógica do Colégio Global (SP).
Leia histórias e poesias
As histórias, além do estímulo que representam à imaginação, aumentam o
vocabulário e a curiosidade sobre a linguagem. Os poemas, assim como as
músicas, têm ritmo e sonoridade bem acentuados. Comece com os textos de rimas
diretas e, aos poucos, vá sofisticando. A leitura não pode ser mecânica.
Coloque emoção e pontue cada frase.
Explore sinónimos
Quando o seu filho perguntar “Qual é o nome disso?”, não se contente em dar uma
só resposta. Claro que nem todos os sinónimos ela vai memorizar imediatamente,
mas no dia a dia procure variar a forma como você define as coisas. Eliana dá um
exemplo divertido que usava na sua própria casa: “Eu falava para lavar as
nádegas em vez de rabinho. Aos poucos, a criança vai enriquecendo seu
vocabulário.”
Permita a convivência
Conviver com outras crianças é importante. “Quando uma criança convive com outra,
ela observa muito e repete. Essa troca enriquece sua experiência”.
A criança aprende a brincar
É isso mesmo. Nada de transformar a aprendizagem da criança em algo mecânico.
Se a criança se está a divertir e a fazer determinada atividade com prazer, ela
aprende muito mais rápido. A dica aqui é: entre pela porta que ela abre para si.
Ou seja, se ela se mostrar interessada por um livro específico, em vez de
forçar a leitura de outro, ajude-a a explorá-lo. Se ela é tímida, não a obrigue
a ficar no colo de todos os parentes da festa. E nada de desespero: já que se
prestar um pouco de atenção, vai identificar a vontade do seu filho em
determinado momento.
Educadora Renata Espinheira Rio