Sabendo da importância do brincar na aquisição de competências surge
um conjunto de outras questões:
- Será que devemos controlar as brincadeiras da criança, ou
devemos deixá-la construir o seu caminho até à meta das competências?
- Será que devemos apenas facilitar brinquedos comuns, ou devemos
também colocar à disposição da criança objetos que, apesar de terem outra
função, viram brinquedos?
Estas duas questões têm na sua génese dois pontos de partida:
ambas defendem que as crianças aprendem por meio da exploração e da descoberta,
tal como defendem as várias teorias sobre o jogo/brincar Heurístico.
Mas afinal em que consiste o Jogo Heurístico?
Segundo o dicionário de Oxford é um “…sistema de educação sob o qual a [criança] é treinada a descobrir as coisas por si mesma…” (Elinor
Goldschmied, 2004: 147).
Por outras palavras, este método de aprendizagem pressupõe:
- Organização de um conjunto de materiais em que a sua função
principal não é ser um brinquedo;
- A criança constrói o seu conhecimento explorando os objetos
livremente;
- Um ambiente que apesar de ser controlado pelo adulto, não
intervém durante o jogo.
Este jogo, ou brincadeira, é mais utilizado em grupos de crianças
com dois anos, visto que têm uma grande motivação para explorar objetos e
verificar as suas características. Para isso necessitam de uma vasta variedade
de elementos que não se encontram em catálogos de brinquedos.
No que diz respeito à organização de materiais não há qualquer
indicação que defina os materiais mais indicados a utilizar. A sua gestão
depende da criatividade do adulto, do interesse do grupo e as suas
características não põem em risco a criança.
Quanto ao papel do adulto, tem duas funções principais: antes do
jogo, tem que recolher e organizar os materiais. Durante o jogo, apenas observa
e faz registos por escrito, vídeo ou fotografia. Apenas intervém se houver uma
situação mais crítica, como disputa de materiais ou outras situações que
coloquem em perigo a criança.
Na Sala Loris Malaguzzi já foi desenvolvido um Jogo Heurístico com
distintos instrumentos. Muitos destes instrumentos estavam repetidos. Durante a
atividade as crianças exploraram as pandeiretas através do tato, verificando
que algumas tinham a pele lisa e outras menos lisa. Verificaram ainda que as
pandeiretas tinham tamanhos e características diferentes, visto que umas davam
para empilhar porque eram do mesmo tamanho e tinham pele. E outras eram de
tamanhos diferentes e não possuíam pele, por isso era possível colocá-las umas
dentro das outras, e não empilhá-las. E muitas outras conclusões foram desenvolvidas,
permitirando que a criança desenvolvesse competências na área do raciocínio lógico-matemático,
conhecimento do mundo e formação pessoal e social.
Por defender que este género de atividades, uma vez que têm uma
enorme importância nesta faixa etária, serão desenvolvidas mais atividades
tendo como base este método. Também em casa os pais podem proporcionar estes
momentos às crianças, com materiais que todos possuímos como modelos de
tupperware, bacias, copos, caixas e muitos outros. Basta sermos criativos.
Bibliografia: Elinor Goldschmied, (2004) “Pessoas com menos de três: crianças pequenas
em creches”, São Paulo
Educador José Pedro Gonçalves
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