quinta-feira, 13 de março de 2014

Brincar ao Faz de Conta

Com o desenvolvimento da educação a partir da criança, e fundamentada nas nossas pedagogias construtivistas, partilho da opinião de que as atividades lúdicas devem ser valorizadas no contexto escolar como poderosas ferramentas para o aprendizado de conteúdos “científicos” e de comportamentos socialmente desejáveis.
 
Através do jogo, e mais concretamente, do jogo de faz de conta, as crianças apropriam-se da realidade e recriam o mundo, não para mudá-lo mas para compreendê-lo. Quando as crianças brincam entram no mundo da fantasia, no qual têm o poder de revelar as suas visões do mesmo, as suas descobertas, os seus gostos e de partilhar ideias e sentimentos pelo prazer de experimentar. Descobrem quais são os seus limites, as suas potencialidades, exercitando a autonomia e a identidade, pois terão que analisar e fazer as suas escolhas.
 
Cabe por isso ao educador organizar oportunidades para as crianças brincarem, enriquecendo de forma construtiva as suas brincadeiras. Por conseguinte, as crianças poderão desenvolver-se e expressar-se através das suas múltiplas linguagens.
 
Seguindo esta perspetiva, surgiu na sala dos 2 anos dois novos projetos: dinamização da biblioteca com os contos tradicionais e construção de um hospital na nossa sala.
 
 
Estes projetos surgiram dos interesses manifestados pelas crianças deste grupo, mas também para trabalhar temáticas presentes nas orientações curriculares para o pré – escolar. No desenrolar destes projetos foram várias as atividades e experiências vivenciadas pelas crianças, desde a construção do hospital e dos cenários, às conversas orientadas em grande grupo para novas aprendizagens e partilha de saberes, até à exploração dos espaços criados e materiais que as próprias crianças trouxeram de casa.
 
Estes projetos serviram para desmistificar medos e ansiedades presentes nesta faixa etária, abordando temas como os cuidados de saúde nos hospitais, as consequências de não ouvir os mais velhos e sermos preguiçosos.
 
Educadora Sandra Moreira

quarta-feira, 5 de março de 2014

A Criança e a Alimentação

Logo desde os primeiros movimentos do bebé no ventre da mãe os pais pensam: «Esta vai ser a minha nova vida. É meu dever dever fazer tudo para que este bebé cresça e se desenvolva. O meu dever – parte dessa responsabilidade – é alimentá-lo bem.» Este papel pode começar a ser uma preocupação mesmo antes do nascimento do bebé.”
 
(T. Berry Brazelton & Joshua D. Sparrow)
 
A criança e a disciplina mais um livro da coleção Método Brazelton, do pediatra  norte-americano T. Berry Brazelton em co-autoria com o pedopsiquiatra Joshua Sparrow. Tal como o livro apresentado no artigo anterior, este permite aos pais conhecerem situações bem características relativamente à alimentação, e à forma como este processo se desenrola ao longo do desenvolvimento da criança.
 
A criança e a alimentação, é o tema escolhido para este mês, precisamente porque à semelhança do anterior, bastantes pais têm colocado questões relativas a este processo.
 
Comecemos por uma preocupação habitual: a recusa da comida. Esta pode ocorrer por vários dias ou aparecendo de vez em quando, a criança vai recusado alimentos específicos, sempre os mesmos ou outros. Por vezes a recusa para comer surge associada a vómitos, comportamentos que naturalmente perturbam os pais.
 
Os hábitos alimentares dos pais servem de modelo aos filhos. Pelo que aproveitando as suas próprias escolhas alimentares, podem preparar as dos filhos. Mas apesar de decidirem que alimentos servem aos filhos a dificuldade surge porque não os podem obrigar a comer, é uma opção da criança.
 
Apesar da recusa em comer poder ter como origem uma resistência da criança para com a pressão exercida pelos pais para que coma, existem outras causas possíveis: por vezes hipersensibilidade a sabores ou texturas, problemas de deglutição, problemas digestivos... por vezes as crianças podem revoltar-se contra a insistência dos pais para que comam, maioritariamente feita de forma inconsciente.
 
Aos dois / três anos, as crianças demonstram grande resistência, o que implica paciência e tolerância por parte dos pais. Mas pelos quatro anos, a criança começa a ser capaz de imitar o comportamento à mesa e os hábitos alimentares, pelo que estas “crises” irão desaparecendo.
 
Todo este processo tem um forte aliado quando as refeições se tornam um “tempo de família”. Para as crianças pequenas as rotinas são estabilizadoras, pelo que iniciar e terminar o dia com uma refeição em família, só trará vantagens. Especialmente num contexto social como o nosso, em que as crianças passam mais tempo nas creches do que com os pais, que por seu turno passam a maior parte do dia a trabalhar, prolongando por vezes as horas de trabalho quando chegam a casa. Assim, um pequeno almoço ou pelo menos o jantar devem fazê-lo em família.
 
Estar com a criança ao pequeno almoço se lhe for possível, será importante porque ajuda-a a preparar-se para a “separação” ao longo do dia.
 
Ao jantar aproveitem para conversar, ajudando a criança a desenvolver competências sociais, transformando a refeição num momento agradável de partilha de experiências.
 
Quanto aos alimentos, é altura de estabelecer regras claras, a refeição é igual para todos. Assim não deverá existir uma refeição especialmente preparada para a criança a partir do momento que esta pode fazer uma dieta alimentar normal: introdução dos sólidos. É claro que estas estarão sujeitas aos devidos ajustes: em primeiro lugar relativamente aos alimentos não autorizados pelo pediatra, seguida dos complementos mais fortes como molhos de natas, béchamel, mostarda, maionese...
 
Tal como em outros aspetos, também na alimentação as crianças pequenas aprendem como devem comportar-se à mesa através da imitação de adultos e crianças mais velhas. Deverá ser adotada desde cedo uma postura correta por parte do adulto, consciente de que estará a modelar o comportamento da criança. Mas só pelos quatro/ cinco anos é que esta estará preparada para reproduzir corretamente esse modelo, o uso dos talheres, do guardanapo, bem como o uso regular de expressões como “por favor” e “obrigada/o”.
 
Assim, em crianças pequenas reforce oralmente este tipo de expressões, mas não espere que uma criança de dois anos a utilize. No entanto, aos três anos poderá tentar utilizá-las, bem como os talheres, e quanto a estes podem surgir tentativas para irritar os pais deixando-os cair ao chão. Seja muito paciente!
 
Aos quatro / cinco anos, consciente do seu próprio comportamento à mesa, a criança valoriza o impacto deste e a aprovação dos outros é importante. E pelos seis anos já podemos esperar da criança um correto comportamento à mesa. Mas apesar disto, a repetição e paciência dos pais continuarão a ser imprescindíveis!
 
Nesta página da internet poderá encontrar este livro do Método Brazelton:
 
Educadora Ana Rita Maia