terça-feira, 29 de outubro de 2013

No Tempo dos Castelos

runer considera que as crianças possuem quatro características congénitas, por ele chamadas de predisposições para o gosto de aprender: a curiosidade, a procura de competência, a reciprocidade e a narrativa. Não querendo descurar as restantes, considero que a curiosidade é o ponto de partida de todas as aprendizagens e é uma característica facilmente observável a todas as crianças. Por ser tão comum, Bruner considera que a curiosidade é uma característica que define a espécie humana. Foi a partir desta curiosidade, inata nas crianças, que partimos à descoberta do que eram os castelos. Tudo começou com a história d´ “O João e o pé de feijão”. Explorámos a história como sempre fazemos... mas, esta tinha algo de especial: o gigante e um castelo “por cima das nuvens” Ora, se o gigante lá morava, o castelo devia ser grande… Será que ainda existem gigantes? Será que ainda existem castelos ou existem só nas histórias? Como eram feitos? Quem os fazia? Quem lá morava? Todas estas perguntas foram colocadas. Umas com resposta quase imediata, outras com necessidade de pesquisa. Em casa, os pais ajudaram e uns recolheram informação através de imagens, outros fizeram maquetas, outros ainda trouxeram livros da especialidade! Tudo nos tem ajudado a caminhar juntos na descoberta do período medieval. É claro que nem todos os conceitos são facilmente percetíveis por todos e por isso, para facilitar a circulação da informação, reproduzimos aspetos da vida medieval… Na verdade, na era da comunicação em que as crianças do grupo dos 3 anos nasceram, era-lhes difícil perceber o facto de, por exemplo, não haver telefones, televisão, ipad’s e iphones… Descobrimos que não havia eletricidade e por isso nem luz elétrica tinham. Vai daí construímos candelabros e descobrimos que, de entre outras profissões medievais, os cirieiros eram aqueles que faziam as velas… Descobrimos também que o pão era o principal meio de sustento deste período histórico e por isso fizemos pão mais ou menos como na altura. Descobrimos que para além do castelo principal onde morava a família real existia uma muralha à volta e por isso construímos uma muralha e uma grande porta de entrada para o reino dos 3 anos… Todas estas descobertas foram feitas respondendo a questões e curiosidades mais ou menos particulares que se ampliaram e que de forma integrada no currículo dos 3 anos se foram ampliando também saberes enquadrados nas diferentes áreas de conteúdo. Por exemplo, percebemos que usamos muitos pacotes de leite (mais de 100 -Raciocíno Lógico-matemático), percebemos que as pedras no Colégio são mais ou menos cinzentas e o cinzento se faz com preto e branco (Expressão Plástica), compreendemos que ainda existem profissões do tempo dos castelos – padeiro -mas outras já foram ou estão quase extintas-ferreiros e cirieiros (Conhecimento do Mundo). Contamos e recontamos histórias e informações (Linguagem e Introdução à Escrita)… Fizemos muitas descobertas e mais se avizinham… Esperem por mais noticias nossas!
 
 
Educadora Florbela Rios

Brincar é importante?

Quando é planificada uma semana de atividades, apenas estão presentes atividades orientadas em que se vai tentar que a criança adquira um conjunto de competências numa determinada área. E o brincar, não é planificado? Ao brincar a criança está na mesma a adquirir competências, tal como acontece nas atividades planificadas.

Tendo em conta esta premissa, será importante as crianças brincarem?
 
Tal como refere Machado:
“Brincar é também um grande canal para o aprendizado, senão o único canal para verdadeiros processos cognitivos. Para aprender precisamos adquirir certo distanciamento de nós mesmos, e é isso o que a criança pratica desde as primeiras brincadeiras transicionais, distanciando-se da mãe. Através do filtro do distanciamento podem surgir novas maneiras de pensar e de aprender sobre o mundo.” (2003:37)

Este autor acrescenta ainda que:
"(…) ao brincar, a criança pensa, reflete e organiza-se internamente para aprender aquilo que ela quer, precisa, necessita, está no seu momento de aprender; isso pode não ter a ver com o que o pai, o professor ou o fabricante de brinquedos propõem que ela aprenda.” (2003:37)

Neste sentido, ao brincar de forma espontânea a criança vai expressar os seus instintos e as suas vontades, que irão servir de alavanca e orientação para auxiliar no desenvolvimento da inteligência, conseguindo desta forma, desenvolver apetências ao nível individual e social. Passando agora para a prática, o jogo simbólico, desenvolve competências em questões como o respeito de regras que se aplicam na brincadeira mas também na sua vida. Para além disso, proporciona a criatividade, já que ao representar diferentes papéis, a criança reproduz e cria diferentes personagens do seu dia-a-dia. Através destas simples, mas importantes brincadeiras, a criança aprende a expressar as suas emoções, tristezas, medos… sempre de uma forma lúdica e motivadora.

Para concluir esta ideia, com esta pequena análise aprende-se a importância do brincar, no sentido em que estimula a imaginação e o afeto, mas também auxilia o desenvolvimento de competências cognitivas e sociais.

Sabemos que brincar é uma atividade natural da criança. Mas porque é que a criança tem necessidade de brincar? A criança brinca por prazer, por distração, mas também na pesquisa de novos saberes e mais conhecimento. Durante a sua brincadeira a criança experimenta e descobre de forma autónoma; valoriza-se a si mesma e entende as limitações pessoais; é ativa dentro de um ambiente seguro, que encoraja e consolida o desenvolvimento de normas e valores sociais. Para além de tudo isto comunica, questiona, interage com os outros, desenvolvendo um conjunto de regras/competências vitais para a sua vida futura. Todas estas competências são adquiridas de forma mais natural durante esta atividade.
 
Brincar é importante porque é a base de uma educação feliz e sólida. Tão ou mais importante como é para o adulto trabalhar, é o que a faz sentir-se ativa, criativa e que lhe dá abertura para se relacionar e conhecer os outros.

Para terminar, e para sintetizar tudo que já foi dito,

O brincar é o principal meio de aprendizagens da criança (…) [onde] gradualmente desenvolve conceitos de relacionamento causais, o poder de discriminar, fazer julgamentos, de analisar e sintetizar, de imaginar e formular”. (2002:36)
 
Educador José Pedro Gonçalves

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Bolo de outono

O outono está aí, anunciando a chegada das primeiras chuvas, da queda da temperatura e do amarelar das folhas das árvores, que caídas no chão, trazem saudades àqueles que preferem o calor do verão. Surpreendentemente, durante o outono as cores da Natureza multiplicam-se, sente-se o aroma das castanhas a estalar, o aconchego das mantas sobre o sofá e dá-se início ao secular ritual do chá, produto do qual os portugueses foram os primeiros europeus a tomar contacto, já no séc. XVI, quando avistaram pela primeira vez as costas do Império do Japão.

Quando pensamos em culinária, nesta época do ano, é imprescindível pensar-se na castanha, que juntamente com o vinho, as compotas ou a marmelada são um dos ícones desta estação. Todos sabemos que do ponto de vista nutricional a castanha é riquíssima em hidratos de carbono, fornecendo simultaneamente quantidades consideráveis de potássio, fósforo, cálcio e magnésio. Há quem goste delas cruas, embora o mais normal é serem cozidas ou assadas. Mesmo sozinhas são a base ideal para uma ótima sobremesa, mas haverá algo melhor do que uma fatia quentinha de bolo para reconfortar o corpo nestes dias cinzentos? Há quem diga que as espécies de castanheiros existentes em Portugal produzem das melhores castanhas do mundo. Inspirados na castanha transmontana, os alunos da Sala de Estudo resolveram confecionar um bolo muito saboroso.


Para a sua confeção foram necessários os seguintes ingredientes:
- 500 g de Castanhas;
- Uma Colher de Chá de Erva Doce;
- Uma Colher de Café de Sal:
- 250 g de Açúcar;
- 100 g de Manteiga;
- Duas Colheres de Chá de Fermento;
- Cinco Ovos.
Preparação:
Primeiramente, os alunos cozeram as castanhas com a erva doce e sal. Logo em seguida, reduziram o preparado a puré. Mais tarde, bateram o açúcar com as gemas e a manteiga, acrescentando gradualmente o puré de castanhas e o fermento. Por fim, adicionarm as claras em castelo. O preparado foi ao forno, previamente aquecido a 200 ºc, numa forma untada com margarina e polvilhada com farinha.

Professor José Castro

"Se a Cor Muda", Perspetiva dos Alunos dos 5 Anos sobre a Exposição de Mel Bochner

A exposição que fomos ver à Fundação de Serralves, despertou no grupo uma curiosidade sobre as diversas técnicas utilizadas pelo artista para explorar a cor, os números, as formas e as letras. Numa fase em que toda a representação da linguagem escrita cria interesse no grupo nada melhor do que visitar uma exposição que aguçou toda essa curiosidade.

"Se a cor muda” apresenta trabalhos de todas as fases criativas de Bochner, incluindo, além de alguns dos seus primeiros desenhos e esculturas de pequena dimensão, instalações, murais e fotografias. As suas obras mais recentes assinalam um regresso à pintura, que em tempos viu com suspeita. Não obstante a sua filiação conceptual, Bochner tem consistentemente utilizado nos seus trabalhos a cor, investigando o modo como esta subverte a linguagem e o texto. A sua série de "pinturas tesauro” exibe cadeias de palavras sobre telas de grandes dimensões. Pintadas em cores vivas, as letras competem com um fundo igualmente colorido, exigindo do espectador que simultaneamente leia e observe. 

Durante visita, o grupo demonstrou particular interesse por uma monografia na qual Mel Bochner utiliza uma técnica de pintura com rolo  sobre letras e espalha toda a tinta. As crianças opinaram sobre saída de linhas, o que na sua perspectiva estaria mal pintado, contudo após explicação da guia perceberam que se tratava de uma técnica de pintura que não conheciam e que poderiam explorar. Mais tarde, no colégio, sugeriram experimentar a pintura tal como o artista tinha feito.

Aqui seguem algumas imagens de todo o processo de exploração da técnica:
 
Educadora Carolina Lopes

Evolução das Creches: Breve Revisão Histórica da Função de Guarda à Função Educativa

Corria o ano de 1770, quando J. Oberlein, pastor de uma comunidade na França, teve a ideia de criar um lactário para bebés latentes de famílias camponesas. Escoceses e ingleses que passaram pela localidade, compreendendo a importância destes centros, importaram a ideia para as zonas industriais do Reino Unido.

Passado pouco mais de meio século, em 1846 existia já em Paris um grupo de 14 creches associadas na “Sociedade das Creches”, sendo o objetivo máximo a guarda das crianças de famílias de trabalhadores. Entretanto, abriram também as primeiras creches privadas, bem como os lactários de ordens religiosas, nomeadamente os das Irmãs de São Vicente de Paulo.

Foi durante o século XIX que surgiram as primeiras creches públicas municipais.

No entanto, com as fracas condições materiais da época, bem como a inexistência de pessoal tecnicamente qualificado, associado ao nível socioeconómico bastante baixo das populações, alvo, proliferavam as epidemias que as afetavam, bem como os atrasos de desenvolvimento psicomotor, carências nutritivas e raquitismo constante.

Já no século XX, com os avanços da medicina, a colaboração entre as obras privadas e os serviços públicos, os orçamentos de incentivo à iniciativa privada, e a organização de algum controlo (legislativo) conduziram a alguma melhoria do funcionamento e atendimento nestes estabelecimentos.

(Antigas Creches da região parisiense)

Finalmente, nos três últimos decénios do século XX assistiu-se ao crescimento moderado das creches.

Os estudos do desenvolvimento cognitivo iriam mais tarde influenciar a visão das creches, de um local de guarda para um lugar onde se educa e contribui para a estruturação física e mental da criança. A forte influência da visão e estudos de Piaget, sobre as crianças como seres ativos em crescimento, com impulsos internos próprios e padrões de desenvolvimento, bem como sendo construtora do seu mundo, foram também fundamentais para esta mudança de paradigma. Influenciando diretamente, entre outras, a Abordagem High-Scope, como veremos num próximo artigo mais específico sobre metodologias em creche. 

Trabalhamos e acreditamos que a creche não será vista como um lactário, com uma simples função de guarda, mas antes como um lugar onde educamos conscientes do desenvolvimento de cada bebé e aquilo que devemos trabalhar com cada um nas várias áreas do desenvolvimento: afetivo, social, físico e cognitivo.
 
Educadora Ana Rita Maia


Fonte Bibliográfica:

“As Creches: Realização, Funcionamento, Vida e Saúde da Criança”  
 Francoise Davidson; Poulette Maguin